Meninas e o abandono do esporte: um alerta para a necessidade de incentivo e motivação

 

Durante a adolescência, muitas meninas deixam de praticar esportes. E, ao contrário do que se imagina, isso não ocorre por falta de interesse. O que está por trás dessa evasão são questões mais profundas e sociais, como pressão estética, medo de errar, vergonha e falta de acolhimento.

Incrivelmente, o afastamento começa cedo. Quando uma criança ganha um presente, é comum que a menina receba uma boneca, enquanto o menino ganha uma bola. Começa aí, muitas vezes, um distanciamento silencioso do mundo do aprendizado motor e da atividade física. Um estímulo desigual, que não podemos generalizar, mas que ainda representa a maioria dos casos.

Compreende-se que, fisiologicamente, homens e mulheres são diferentes. Mas a escola, a família e os amigos não devem ser espaços que reforcem barreiras. Nunca se deve dizer a uma menina que ela não vai conseguir ou que determinado esporte não é para ela. O incentivo precisa ser igual, justo e respeitoso, abrindo portas em vez de fechá-las.

Falo isso também como educador. Ao longo de mais de 20 anos de trabalho com crianças, adolescentes e famílias, vi de perto muitas dessas situações acontecerem – meninas que amavam se movimentar, mas foram silenciadas por olhares, comentários ou simples omissões. Vi talentos se apagarem não por falta de habilidade, mas por falta de encorajamento.

Estudos recentes apontam dados preocupantes:

📌 43% das meninas que antes se consideravam “atletas” abandonam o esporte após o Ensino Fundamental.

📌 85% evitam o esporte durante o período menstrual.

📌 78% não se sentem confiantes.

📌 76% relatam sentir-se julgadas pelos outros.

📌 54% acreditam que não têm o “corpo certo” para a prática esportiva.

Segundo a coordenadora do Projeto Mempodera, Mayara Amália, essa realidade começa muito antes da adolescência: “As meninas crescem ouvindo como devem se comportar, se vestir, agir – e isso se estende às escolhas de esporte. Quando ganham tônus muscular, algumas começam a se preocupar com o corpo e tentam se encaixar em um padrão.”

Na prática, isso se traduz em um afastamento gradual do esporte. Primeiro, muitas meninas deixam de participar das aulas de Educação Física. Depois, saem dos times escolares. Até que, em algum momento, deixam de se enxergar como atletas. Enquanto os meninos seguem jogando e competindo, as meninas, pouco a pouco, se retiram desse espaço. E esse não é um problema individual. Quando uma menina desiste do esporte, a culpa não é dela. É nossa, por não termos insistido.

Essa temática dialoga diretamente com a ODS 5 da ONU – Igualdade de Gênero, que propõe, entre outros objetivos, garantir o acesso igualitário à participação plena na vida social, econômica e esportiva. Promover o esporte como ferramenta de empoderamento feminino é um passo essencial rumo a uma sociedade mais justa, inclusiva e equilibrada.

Acho lindo, fantástico, quando uma família, uma escola, um grupo de amigos diz para uma menina: “Vai lá… você consegue!” Porque esse simples gesto pode refletir em tudo na vida dela: autoestima, saúde, liderança, coragem. É nesse momento que elas deixam de ser meras observadoras para se tornarem protagonistas da própria história – dentro e fora do esporte.

*Junior Damiani é educador físico, fundador da VOM (Viva o Movimento) e professor do Colégio Dom Feliciano.

 

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