Ser professor é um ato de resistência e coragem

 

Dizer que “a docência é um ato de coragem” não é figura de linguagem: é reconhecer o gesto diário de quem sustenta o futuro com as próprias mãos. É também reafirmar algo fundamental à docência é uma profissão, com saberes específicos, formação contínua, carreira, direitos e responsabilidades.

Como bem destaca António Nóvoa, “não nascemos professores; tornamo-nos professores por meio de um processo de formação e de aprendizagem na profissão”. É vocação, sim, mas também é trabalho altamente especializado, que exige condições dignas para florescer.

Nos últimos anos, o Brasil tem convivido com sinais preocupantes de desvalorização e escassez docente. Um estudo da USP projeta a carência de até 235 mil professores na educação básica até 2040, reflexo de salários pouco atrativos, condições de trabalho desafiadoras e da queda no interesse pelas licenciaturas. Em 2024, um levantamento nacional apontou que oito em cada dez professores já pensaram em deixar a carreira, revelando o impacto emocional e a pressão cotidiana enfrentados por quem ensina.

Mesmo diante desse cenário, ser professor continua sendo um ato de coragem – coragem no indivíduo, na educação e na possibilidade concreta de mudança. Escolher a docência é mais do que seguir uma vocação: é assumir um compromisso com a sociedade. Envolve horas de estudo, planejamento, escuta e empatia. É presença constante, é reinventar-se a cada aula, é acreditar que o aprendizado transforma.

Vivemos um tempo em que a educação enfrenta desafios profundos: escassez de recursos, sobrecarga de tarefas, desvalorização social e interferências externas que ultrapassam os muros da sala de aula. Mesmo assim, há quem siga dizendo “sim”, todos os dias, à missão de ensinar. Cada “sim” é um voto de confiança no poder do conhecimento, na força da coletividade e na esperança de um futuro melhor.

Essa escolha é corajosa porque resiste à invisibilidade. É rebelde porque insiste em construir cidadania. E é amorosa porque enxerga, em cada aluno, o potencial de um novo começo, mesmo quando o cenário parece desfocado.

Mais do que transmitir conteúdo, a docência é uma construção conjunta: entre educador e educando, entre teoria e prática, entre emoção e evidência. É aprender e ensinar com quem aprende, descobrindo caminhos, transformando dúvidas em pontes e experiências em legado.

Neste Dia dos Professores, celebramos essa coragem que transforma e resiste. Reafirmamos que a docência é vocação, sim, mas também é uma profissão que merece respeito, valorização e reconhecimento. Afinal, sem o professor, nenhuma outra profissão existiria.

Que cada educador e educadora se reconheça como protagonista de histórias que mudam o rumo de vidas. Que continue acreditando no poder da palavra, do exemplo e do conhecimento como sementes de um mundo mais justo, sensível e humano. Porque onde há um professor, há sempre a esperança de um futuro melhor, e é essa esperança que faz da educação o mais belo ato de coragem.

*Mariele Padilha Flores é pedagoga, especialista em Gestão Educacional, Formação de Professores e mestranda em Informática na Educação. É a diretora da Faculdade CNEC Gravataí.

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