A endoscopia e a colonoscopia são exames essenciais na prevenção e detecção de doenças do trato digestório. Com o avanço das técnicas e da tecnologia, hoje é possível obter um diagnóstico preciso que contribui para a qualidade de vida do paciente, especialmente em tempos em que o surgimento de enfermidades é cada vez mais evidente.
Vamos começar pela endoscopia digestiva alta, também conhecida como EDA. Trata-se de um exame que permite visualizar internamente o sistema digestivo superior por meio de um tubo flexível e fino, equipado com câmera e luz na ponta. O tubo é introduzido pela boca, possibilitando a análise de esôfago, estômago e duodeno. O exame é recomendado para avaliação diagnóstica quando há sintomas como azia persistente, dor no estômago, dificuldade para engolir, vômitos sem causa aparente, anemia, perda de peso inexplicada, sangramentos ou para investigação de doença celíaca.
A colonoscopia, por sua vez, é direcionada ao trato digestivo inferior. Por meio de um tubo flexível introduzido pelo ânus é possível visualizar o intestino grosso e a porção final do intestino delgado. O exame é indicado para investigar diarreia crônica e constipação persistente, sangue nas fezes, dor abdominal ou mudança repentina no hábito intestinal, além de auxiliar no diagnóstico de doenças inflamatórias, como retocolite ulcerativa e doença de Crohn, bem como em casos de anemia. Um dos principais motivos de sua realização é a prevenção e detecção precoce do câncer colorretal, um dos mais comuns no mundo.
Os exames geralmente ocorrem com sedação, embora também seja possível realizá-los sem esse recurso. Em certas situações, como eventuais riscos com a sedação, alergias ou por preferência do paciente, utilizamos apenas spray e géis anestésicos. A sedação torna o exame mais confortável, indolor e com efeito amnésico. De qualquer forma, com ou sem essa alternativa, o procedimento continua sendo seguro. No Hospital Dom João Becker, as endoscopias e colonoscopias são sempre realizadas com a presença de um colega anestesista, em conformidade com o Conselho Federal de Medicina.
Com base na minha experiência, em que realizo dezenas de exames por semana entre endoscopias digestivas altas e colonoscopias em pacientes de todas as idades, posso afirmar que a incidência de doenças do trato digestivo vem aumentando. Isso é uma tendência nacional corroborada por estudos globais. Diversos fatores contribuem para esse cenário, sendo os principais relacionados ao estilo de vida moderno, marcado por dietas ricas em alimentos processados, fast food, gorduras e açúcares, com pouca fibra, frutas e vegetais.
Esse padrão alimentar favorece a obesidade, que por sua vez eleva o risco de refluxo, câncer gástrico e colorretal, e doenças hepáticas. Observo muitos jovens com queixas de gastrite associada a uma alimentação de baixo valor nutricional, assim como pacientes recebendo diagnósticos de câncer em idades mais precoces do que o habitual. Infecções causadas pela bactéria H. Pylori também são bastante comuns em locais com baixo saneamento, o que pode aumentar ainda mais o risco de úlceras e cânceres gástricos.
A partir dos 45 anos de idade, é importante que o paciente converse com seu médico sobre a necessidade de realizar, tanto EDA quanto colonoscopia. Além de detectar patologias, em alguns casos esses exames já podem iniciar o tratamento imediatamente, pois o endoscópio permite remover pólipos e lesões maiores, tratar sangramentos, retirar objetos ingeridos inadvertidamente, dilatar estreitamentos e realizar biópsias, entre outras possibilidades terapêuticas.
*Dr. Lucas Gatelli é médico gastroenterologista do Hospital Dom João Becker e foi o convidado desta terça-feira (2/12) do programa Papo de Saúde, uma parceria com o Giro de Gravataí.
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