Caiu no golpe do bilhete! Ingenuidade ou ganância?

 

Frequentemente vemos notícias de operações policiais prendendo bandidos que aplicam o famoso golpe do bilhete. Nestas ocasiões, nossa primeira reação é pensar: “Poxa! Coitada daquela pessoa que caiu no golpe!”

É normal que pensemos desta forma, afinal, alguém foi ludibriado e teve um prejuízo financeiro, às vezes bastante alto, perdendo quantias que poderão lhe fazer falta em algum momento. Quem foi enganado e caiu no golpe estava tentando ajudar a outra pessoa e foi trapaceado por causa da sua ingenuidade. Será?

Te convido a refletir como acontece o golpe, qual é o modus operandi do malandro.

Primeiro, é escolhida uma vítima, muitas vezes pessoas de mais idade, talvez porque estas sejam menos desconfiadas das intenções das outras pessoas. O golpista se aproxima, conta uma história, em geral de que tem alguma urgência em viajar e que está com um bilhete premiado de alguma loteria. Bilhete de um valor bem grande, daqueles números que fazem a pessoa balançar. Mas, por ironia do destino, o coitado não pode comparecer ao banco para retirar seu prêmio, afinal, seu compromisso tem um valor sentimental muito importante, sendo algo muito mais grandioso para ele do que o dinheiro de um jogo.

Outros golpistas podem aparecer para dar credibilidade à história, com situações como o falso telefonema para o “gerente” do banco. A vítima fica sensibilizada pelo drama do “coitado”. É quando o malandro, aquela pessoa desapegada do dinheiro, apresenta uma solução, uma forma da inocente vítima conseguir ajudar, oferecendo-lhe o bilhete de alto valor por alguma quantia irrisória. A vítima então concorda em ajudar, afinal é uma pessoa de bom coração.

Opa! Vamos dar pausa na cena neste momento. Será mesmo que é o bom coração da vítima que está agindo para ajudar o outro? Ou será que ali, naquele momento, a oportunidade se apresenta, trazendo lá do íntimo aquela ganância, aquela esperteza, fazendo a pessoa imaginar que “Ah! Estou ajudando este coitado! Hum! Que trouxa. Um bilhete deste valor enorme por uma merreca de uns pilas. Nesta vou me dar bem!”

É algo para refletirmos, o golpe do bilhete é na verdade uma trama muito bem elaborada que se utiliza de um aspecto da personalidade humana não tão nobre assim. O que leva a vítima a cair no golpe não é a sua ingenuidade, mas a sua ganância, a vontade de tirar alguma vantagem daquela situação.

*José Renato Reis é servidor público e bacharel em Direito. Identificado com os segmentos artísticos, dedica-se à escrita e a apresentação do podcast Teimosia Cultural.

 

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