Os números da dengue não param de crescer no Rio Grande do Sul. Dados da Secretaria de Saúde do Estado revelavam, na última semana, que o Rio Grande do Sul já contabilizava 11.760 casos confirmados e 28.510 em investigação, somente em 2025. Em Gravataí, eram 182 confirmados e outros 285 ainda em averiguação. Mas o que precisamos saber sobre a dengue e como enfrentá-la?
É preciso entender a doença e promover a cultura da prevenção. As mudanças climáticas das últimas décadas, que levaram ao aumento global das temperaturas e a períodos de chuvas mais intensos e prolongados, favoreceram a reprodução do mosquito Aedes Aegypti.
Além disso, a urbanização desordenada, sem condições sanitárias adequadas, também contribuiu para a proliferação do vetor. A água parada serve como criadouro para os ovos do mosquito. Já o descarte inadequado pode conter recipientes que acumulam água. Portanto, eliminar lixo e recipientes com água parada é fundamental.
O vírus da dengue possui quatro sorotipos diferentes. Quando a pessoa é infectada por um deles, o sistema imunológico desenvolve anticorpos específicos que conferem imunidade contra esse sorotipo. Porém, se ocorrer uma segunda infecção (por sorotipo diferente), em vez de neutralizarem o vírus, os anticorpos facilitam a entrada dele nas células, aumentando a carga viral e, consequentemente, a resposta inflamatória. Isso pode levar a manifestações mais graves, como a dengue hemorrágica.
Também existem fatores que aumentam o risco, como comorbidades e o estado nutricional de cada indivíduo. Por isso, sim, é correto afirmar que uma nova infecção pode ser mais perigosa do que a primeira. No entanto, para que ocorra, é necessário ser picado novamente por um mosquito infectado.
Os sintomas iniciais da dengue são inespecíficos, o que dificulta o diagnóstico precoce. A maioria dos casos se apresenta de forma leve, porém, é de suma importância realizar uma avaliação médica para identificar sinais de alarme que possam indicar uma evolução para formas mais graves da doença. Vale ressaltar que não existe um tratamento específico, mas sim medidas de suporte, que são essenciais para a adequada recuperação. A ação inicial é a hidratação.
O Butantan vem desenvolvendo uma vacina, há alguns anos, com resultados muito promissores. A Butantan-DV é tetravalente, ou seja, protege contra os quatro sorotipos, e foi testada em estudos de fase 2 e fase 3, com eficácia e perfil de segurança excelentes. É a primeira do mundo com dose única contra a dengue e já está sendo produzida em larga escala, a fim de atender à demanda nacional, assim que os processos regulatórios forem concluídos. A vacina Qdenga, ministrada em duas doses, já é disponibilizada pelo SUS para o público-alvo de 10 a 14 anos de idade, residente em locais prioritários definidos pelo Ministério da Saúde.
*Bruna Fabro é médica infectologista e atua no Hospital Dom João Becker, em Gravataí.