
A crise política em Cachoeirinha atingiu um novo patamar nesta sexta-feira (24), após o prefeito Cristian Wasem (MDB) reagir à abertura do processo de impeachment com uma série de exonerações que desencadearam efeito dominó no governo. Em resposta à decisão da Câmara, que aprovou por ampla maioria o início do processo contra ele e o vice, João Paulo Martins (PP), o chefe do Executivo determinou a demissão do secretário de Cultura, Ildo Júnior, e de outros cargos de confiança ligados a vereadores que votaram pela admissibilidade da denúncia.
A medida foi interpretada como uma retaliação política direta à base parlamentar que, dias antes, havia garantido 13 votos favoráveis à investigação — um a mais do necessário para eventual cassação. Entre os atingidos pelas exonerações estão aliados da presidente da Câmara, Jussara Caçapava (Avante), e dos vereadores Zeca dos Transportes e Otoniel Gomes, ambos do MDB, além de Gilson Stuart (Republicanos).
O gesto do prefeito, porém, teve efeito imediato. Cerca de 100 cargos comissionados (CCs) ligados aos dez vereadores da base que apoiaram o processo compareceram à Prefeitura para entregar seus pedidos de demissão coletiva. O movimento foi acompanhado por parlamentares, que anunciaram rompimento político com o governo. “Os vereadores não aceitam a interferência do Executivo em um procedimento do Legislativo”, afirmou uma das lideranças do grupo ao site Seguinte:.
Embora as nomeações sejam de livre escolha do prefeito, o episódio evidenciou a perda de sustentação política de Cristian dentro do próprio partido e acentuou o isolamento de seu governo. O assessor especial do Gabinete, André Lima, minimizou o impacto das demissões, classificando-as como “um ato midiático”. Ainda assim, o gesto coletivo reforça o enfraquecimento da base e o risco de paralisação de setores administrativos. As informações são também do site Seguinte:.
O processo de impeachment
O processo que ameaça os mandatos de Cristian Wasem e João Paulo Martins teve origem em uma denúncia apresentada por Valdemir de Almeida, o Xereta (PL), com base em uma Ação de Investigação Judicial Eleitoral (AIJE) movida por adversários políticos. O documento acusa o prefeito de abuso de poder político e econômico, uso eleitoral da máquina pública, repasses irregulares de R$ 2,7 milhões durante as enchentes de 2024 e suposto superfaturamento na compra de telas interativas.
A Comissão Processante da Câmara é formada por Zeca dos Transportes (MDB), Mano do Parque (PL) e Gilson Stuart (Republicanos) e tem 90 dias para concluir o relatório. Caso o parecer seja pela cassação, serão necessários 12 votos — número que, no atual cenário, parece ao alcance da oposição.

Julgamento judicial paralelo
Paralelamente ao processo político, tramita na 143ª Zona Eleitoral a AIJE que investiga as mesmas irregularidades. A sentença, prevista para o início de novembro, pode determinar a cassação judicial dos mandatos e a inelegibilidade dos gestores por oito anos. Uma eventual condenação fortaleceria o discurso político pela destituição e aceleraria o colapso do governo.
Cristian, em vídeo divulgado nas redes sociais, afirmou ter sido “surpreendido por vereadores amigos, parceiros, do partido e da igreja” e disse confiar na absolvição por falta de provas. No mesmo pronunciamento, exibiu um par de tênis entregue a alunos da rede municipal — item citado na denúncia — e negou ter realizado a distribuição em período eleitoral.
O cenário atual é o mais grave enfrentado por um governo municipal desde a queda do ex-prefeito Miki Breier, em 2022. Se confirmada a cassação, a vereadora Jussara Caçapava, presidente da Câmara e uma das articuladoras do processo, assumirá interinamente o comando da Prefeitura até a realização de novas eleições.
