Lesões na coluna: dos quadros comuns aos mais graves, conheça tratamentos e medidas preventivas

 

De um mal jeito durante as atividades do dia a dia às condições próprias do envelhecimento ou um acidente com impacto mais intenso, as lesões na coluna já afetaram a muitas pessoas, porém em níveis de gravidade variáveis. Dos casos com recuperação rápida aos de longa reabilitação ou mesmo situações irreversíveis, há tratamentos e formas de aliviar as dores e desconforto. E, muito importante destacar, existem também formas de prevenir esse tipo de lesão.

As lesões na coluna podem ser causadas por traumas diretos, como acidentes de trânsito, quedas e impactos esportivos, mas também por condições adquiridas ao longo da vida. Entre as causas não traumáticas mais comuns estão a degeneração discal pelo envelhecimento, sedentarismo, sobrepeso, doenças inflamatórias, como a espondilite anquilosante ou artrite reumatoide, e até tumores ou infecções. Algumas regiões são mais suscetíveis a lesões, caso da cervical e da lombar, pois são as mais móveis. Já as lesões mais perigosas costumam ocorrer na região cervical alta, pois podem afetar o controle motor de todo o corpo, inclusive a respiração, dependendo do nível atingido.

Quando falamos em lesões na coluna, um quadro relativamente comum e que leva muitos pacientes a necessitar de atendimento médico é a hérnia de disco. Os discos intervertebrais são estruturas localizadas entre as vértebras da coluna, funcionando como amortecedores. Cada disco é formado por duas partes principais: o anel fibroso, que é a porção externa, firme e resistente, e o núcleo pulposo, que é mais gelatinoso e hidratado, localizado no centro do disco. Com o tempo, ou por predisposição individual, o anel fibroso pode se enfraquecer ou sofrer pequenas fissuras. Isso permite que o núcleo pulposo extravase parcial ou totalmente para fora do disco — formando o que chamamos de hérnia de disco.

Essa extrusão pode comprimir raízes nervosas próximas, levando a sintomas como dor irradiada, formigamento, perda de força muscular ou até alteração de reflexos, dependendo da localização da hérnia. E tudo isso pode causar um impacto significativo na qualidade de vida do paciente, especialmente quando a dor se torna crônica ou interfere em atividades simples do dia a dia, no sono ou na capacidade de trabalhar. Além da dor física, o sofrimento emocional e a limitação funcional também contribuem para a piora da qualidade de vida nesses casos.

É importante destacar que a maioria das hérnias de disco são achados incidentais em exames de imagem e não causam sintomas relevantes. Nesses casos, nenhum tratamento é necessário, apenas acompanhamento clínico, se for o caso. Contudo, quando a hérnia provoca sintomas — como dor irradiada, formigamento, perda de força ou reflexos — o tratamento inicial costuma ser conservador. Isso inclui medicações analgésicas e anti-inflamatórias, fisioterapia, reeducação funcional e, em alguns casos, bloqueios com anestésicos e corticoides.

A cirurgia é indicada em casos mais graves, como quando há déficit neurológico progressivo, dor intratável ou falha do tratamento clínico. Hoje em dia, diversas técnicas minimamente invasivas estão disponíveis, permitindo recuperação mais rápida e menor agressão aos tecidos. O mais importante é sempre correlacionar os achados dos exames com os sintomas clínicos, para evitar tratamentos desnecessários.

Para alguns pacientes, uma alternativa para amenizar dores na coluna é a injeção de bloqueio. Trata-se de um procedimento minimamente invasivo que visa reduzir a dor na coluna por meio da aplicação de medicamentos diretamente na área afetada — geralmente uma combinação de anestésicos e corticoides. Com este recurso, o objetivo principal é aliviar a dor temporariamente, permitindo que o paciente tolere melhor outros tratamentos fundamentais, como a fisioterapia, os exercícios físicos orientados ou mesmo o retorno gradual às atividades cotidianas.

O tempo de ação varia de pessoa para pessoa: em alguns casos, o efeito pode durar apenas algumas semanas; em outros, meses. Vale destacar que o bloqueio não é um tratamento exclusivo nem curativo, mas sim uma ferramenta dentro de uma abordagem mais ampla de manejo da dor. Hábitos de vida saudáveis continuam sendo as melhores maneiras de prevenir doenças e, inclusive, lesões na coluna.

Praticar atividade física regular, evitar o sedentarismo e manter um peso corporal adequado são medidas fundamentais. Caminhadas de 30 minutos, pelo menos 3 vezes por semana, são uma das intervenções com maior tamanho de efeito na redução da dor lombar crônica. Além disso, exercícios que fortalecem a musculatura do core — como Pilates ou musculação supervisionada — ajudam a proteger a coluna e prevenir lesões.

Embora os tratamentos tenham evoluído muito nas últimas décadas, é essencial destacar que também há casos cuja lesão na medula espinhal é tão grave que pode causar a paraplegia ou tetraplegia. Isso significa que a medula não se regenera como outras partes do corpo, e, uma vez danificada, as funções motoras e sensitivas abaixo do nível da lesão podem ser permanentemente perdidas. Ainda que a Medicina tenha avançado, a regeneração nervosa na medula espinhal ainda é um grande desafio científico.

*Dr. Thiago Ávila é médico neurocirurgião do Hospital Dom João Becker.

Ele foi o entrevistado da última edição do programa Papo de Saúde, uma parceria do hospital com o Giro de Gravataí. Clique aqui para assistir a live.

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