Mãe atípica de Cachoeirinha transforma dificuldade em oportunidade de negócio

Receber o diagnóstico de autismo de um filho traz uma série de dúvidas e desafios. Alguns deles são bem práticos, como a dificuldade de cortar o cabelo das crianças. Muitas se incomodam com os estímulos visuais e sonoros presentes em barbearias e salões de beleza. Outras não suportam o contato da tesoura com o cabelo ou o barulho e a vibração da máquina de corte. É preciso muita paciência para que um corte de cabelo seja concluído em crianças atípicas.

Moradora de Cachoeirinha, Daira Fernanda Fleck, viveu essa realidade na prática com o filho Allan, de 5 anos, autista não-verbal. “Levava em salões para cortar, mas ele precisava ser segurado na cadeira. Muitas vezes não conseguíamos. Era muito difícil para ele e para mim”, lembra. Para acabar com o sofrimento, ela decidiu agir. Quando Allan tinha 3 anos, começou a cortar o cabelo do filho em casa.

“Com autistas, é preciso paciência, entender a criança, fazer sem pressa. Peguei uma máquina emprestada, dei para ele sentir, passei pela cabeça ainda desligada, depois passava sem a lâmina de corte. Às vezes precisava de mais de um dia para terminar. Mas era sem técnica, porque nunca tinha aprendido”, recorda. Aos poucos, Allan foi se acostumando e hoje não tem mais resistência para cortar o cabelo em casa.

Da necessidade ao negócio

A história de Daira ficou conhecida na Associação Pais de Amor – de Pais e Amigos dos Autistas de Cachoeirinha, que ela frequenta com o filho. Foi lá que recebeu o convite para participar do projeto Fortale-Ser e transformar essa habilidade em uma fonte de renda. A iniciativa começou depois da enchente de maio de 2024 com o objetivo de oferecer um caminho para o empoderamento feminino no empreendedorismo.

“Começamos pela capacitação, passando por orientação e mentorias personalizadas. Cada mulher foi instrumentalizada a transformar suas aptidões e sonhos em negócios de sucesso. Nossa abordagem individualizada garantiu que cada participante recebesse o suporte necessário para alcançar seu pleno potencial”, explica Adriane Amaral, assistente social da Pais e Amor. As mulheres participantes saíram com o material básico para começar a trabalhar.

Outra etapa do projeto foi uma capacitação técnica. Daira, por exemplo, aprendeu técnicas de corte com um cabeleireiro. Foi o incentivo que precisava. Com o suporte, criou o TEACorte e hoje mantém uma agenda de terça-feira a domingo em toda a região e em Porto Alegre. Os atendimentos são totalmente adaptados às necessidades e ao tempo de cada cliente. “É um sonho que está se realizando. Quando se tem um filho autista, a gente renuncia a muita coisa para estar com eles. Com essa profissão, além de ter uma renda, eu vou poder ajudar outras mães nesse momento que muitas vezes é um desafio”, conclui.

A primeira turma do projeto Fortale-Ser, que conta com o apoio do Instituto Localiza, já tem data marcada para a formatura: 14 de março. Ao todo, cinco mulheres concluirão a primeira turma do projeto com iniciativas de geração de renda nas áreas de artesanato, doces, salgados, venda de laços e calçados infantis.

Foto: Diléa Fronza

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