Segundo dados do Instituto Nacional do Câncer (INCA), estima-se que o tabagismo seja responsável por cerca de 80% a 85% dos casos de câncer de pulmão. A Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC) e a fibrose pulmonar, entre outras condições, também estão relacionados ao consumo de nicotina e assimilados. Existem estratégias que, quando utilizadas em conjunto, aumentam as chances de cessação do tabagismo. No entanto, para o sucesso dessas ações, é fundamental a conscientização e o engajamento do paciente.
O tabagismo e a exposição passiva, somados, são responsáveis por 156 mil óbitos anuais no Brasil, o que representa 428 mortes por dia. O custo total atribuído às doenças relacionadas ao tabagismo no país é da ordem de R$ 153,5 bilhões por ano. Um número elevado e preocupante, visto que essas doenças podem comprometer não só a qualidade de vida, mas também a sobrevivência do paciente.
A exposição contínua a substâncias tóxicas presentes na fumaça do cigarro, como alcatrão, nicotina, monóxido de carbono e milhares de outras partículas químicas, é extremamente nociva ao organismo. A fumaça do cigarro provoca inflamação crônica das vias aéreas, o que causa aumento da produção de muco (catarro) favorecendo as infecções respiratórias. Outra alteração que pode ocorrer é o estreitamento dos brônquios (broncoespasmo), que provoca falta de ar no paciente. Com a permanência da agressão ao longo dos anos pode evoluir com dano dos alvéolos pulmonares e desenvolvimento de enfisema pulmonar.
O fumo é o principal causador do câncer de pulmão. Além do tabagismo, outros fatores, como exposição a poluentes ambientais e agentes químicos também podem contribuir, mas o fumo continua sendo a maior causa evitável dessa doença. Existem dois tipos principais de câncer de pulmão: o de pequenas células e o de não pequenas células. O primeiro normalmente é mais agressivo e tem uma maior taxa de mortalidade. Felizmente, o tipo de não pequenas células representa cerca de 80% dos casos e tem um prognóstico melhor.
Mas o tabagismo não causa apenas câncer. Existem outras doenças bem importantes que o consumo de cigarro e similares podem gerar. A Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC) é uma patologia bastante comum. Ela se apresenta como bronquite crônica e enfisema, e tem grande impacto sobre a qualidade de vida dos pacientes, sendo responsável por um número significativo de internações hospitalares. Há também uma relação entre o fumo e fibrose pulmonar, condição em que ocorre a cicatrização do tecido pulmonar, prejudicando a função e a elasticidade dos pulmões.
Outra ameaça à saúde em franco crescimento é o “vape”. Esse dispositivo eletrônico aquece um líquido, geralmente composto por nicotina, propilenoglicol, glicerina vegetal, aromatizantes e outras substâncias químicas, transformando-o em vapor que é inalado pelo usuário. O vape simula o ato de fumar, mas em vez de queimar tabaco, produz vapor contendo nicotina e outras partículas, provocando doenças como o EVALI (E-cigarette or vaping use-associated lung injury/ Injúria Pulmonar associada ao uso de cigarro eletrônico). Trata-se de uma condição pulmonar aguda, que pode evoluir para óbito, e ganhou destaque a partir de 2019, quando vários casos de internações com sintomas respiratórios graves foram relatados, especialmente nos Estados Unidos.
Existem alternativas de tratamento tanto do vício, quanto das condições de saúde ocasionadas pelo fumo. Entre as ações estão a Abordagem Comportamental, a Terapia de Reposição de Nicotina (TRN) e a Terapia Medicamentosa. No Sistema Único de Saúde (SUS), o tratamento é oferecido gratuitamente, incluindo aconselhamento e medicamentos como a TRN (adesivos, gomas, pastilhas) e bupropiona.
*Dr. Fernando Issa é pneumologista e também atua como diretor médico do Hospital Dom João Becker. Ele foi o convidado desta terça-feira (9/9) do programa Papo de Saúde, uma parceria do hospital com o Giro de Gravataí.
Clique aqui para assistir a edição do Papo de Saúde sobre o tema tabagismo.
