Cerca de 50 mil pessoas estão na fila por um doador de órgão, sendo a maioria homens na faixa etária entre 50 e 64 anos. Conhecido por seu sistema público de transplantes, o Brasil é o segundo país que mais realiza esse tipo de procedimento, atrás apenas dos Estados Unidos. Em 2024, foram mais de 30 mil cirurgias desse tipo. Mesmo se destacando no cenário internacional, o país ainda enfrenta muitos desafios, o principal continua sendo a conscientização da população.
Um transplante exige a coordenação de uma equipe extensa, com profissionais de diversas áreas: saúde, transporte, logística, segurança, além de toda a estrutura hospitalar. Garantir que tudo funcione em sincronia é um grande desafio. Mas o principal fator limitador hoje é a disponibilidade de órgãos para doação, pois, sem doadores, não há transplantes. Por isso é muito importante que o doador converse com sua família, pois ela será responsável pela decisão que pode salvar até oito vidas.
O transplante é indicado quando um órgão não está mais cumprindo sua função de maneira adequada. Nessa situação, ele passa a ser a alternativa mais eficaz para oferecer uma melhor qualidade de vida e novas perspectivas ao paciente. O processo envolve várias etapas coordenadas. Primeiro, é feita a confirmação da morte encefálica do doador. Depois, a família é consultada e autoriza a doação. Em seguida, o doador passa por uma série de exames e análises para avaliar a viabilidade dos órgãos. Esses órgãos são ofertados às equipes de transplante, que verificam se o receptor está em condições de recebê-los. Só então acontece a remoção e o transporte para os centros transplantadores, onde é realizada a cirurgia de implante.
Tudo precisa ser feito de forma rápida e sincronizada para garantir a preservação do órgão e a segurança do paciente. O transplante exige uma estrutura hospitalar específica: centro cirúrgico adequado, UTI preparada, equipe multidisciplinar treinada e protocolos de alta complexidade. Não basta ser um hospital de grande porte. É preciso estar habilitado e credenciado para esse tipo de procedimento. O Hospital Dom Vicente Scherer, da Santa Casa de Porto Alegre, é a principal referência em transplantes aqui no sul do Brasil.
No geral, os resultados têm sido animadores. Dependendo do órgão, muitos pacientes vivem décadas com qualidade de vida após o transplante. Atualmente, já existem pacientes que seguem suas vidas por 20, 30 anos após a cirurgia. Entretanto, alguns cuidados precisam ser observados. Entre eles, a adoção de uma rotina adequada no uso de medicamentos. O organismo, naturalmente, reconhece o órgão transplantado como algo “estranho” e tenta rejeitá-lo. Por isso o paciente precisa usar medicamentos chamados imunossupressores, que controlam essa reação. É graças a eles que o órgão pode funcionar normalmente por muitos anos.
No Brasil, a doação de órgãos só ocorre com a autorização da família. Por isso é tão importante conversar sobre esse desejo em vida. Quando a família conhece a vontade do doador, o processo se torna muito mais simples e respeitoso. Para o transplantado a família também tem papel crucial. Ela se torna parte fundamental em todas as etapas: desde a organização do pré-operatório, passando pelos cuidados imediatos após a cirurgia, até o apoio contínuo ao longo da vida. Esse suporte, tanto emocional quanto prático, faz toda a diferença para o sucesso do transplante.
*Dra. Mayara Machry é médica cirurgiã do Hospital Dom João Becker e foi a convidada de ontem (30/9) do programa Papo de Saúde, uma parceria com o Giro de Gravataí.
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